quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Enem para melhorar a Educação para os pobres

A euforia tomou conta de vários noticiários com o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que saiu dos 501 para 511 pontos. A ponto de técnicos do governo federal alardearem que nos próximos 10 anos (em vez dos 15 anteriormente previstos) que chegaremos aos 600 pontos.
Mas ainda tem muito chão para percorrer. Principalmente, é necessário universalizar a qualidade da Educação brasileira, pois o retrato que o Enem mostrou é preocupante.
Segundo a Agência Brasil, todas as escolas públicas que compõem a lista das 100 melhores no Enem têm modelo de organização diferenciado e boa parte está vinculada às universidades públicas.
Ainda fazem parte desse grupo os colégios militares, os institutos federais de Educação Profissional e as escolas técnicas estaduais. E o lamentável: entre as cem melhores escolas classificadas no Enem, nenhuma delas é uma unidade da rede estadual com oferta regular.
O que nos leva a refletir que se o Estado quiser investir para valer e cuidar bem da Educação dos nossos jovens que tem condições e parâmetros para fazê-lo. É muito fácil reproduzir os ambientes educacionais nas escolas técnicas, colégios militares e nos colégios de aplicação vinculados às universidades.
Basta direcionar o dinheiro disponível para os modelos que dão certo que, mesmo sem ser educadores, nós sabemos: pagar melhor os professores, estimular os alunos e gerar competência educacional no dia-a-dia da escola.
Senão, corremos o risco de mesmo com Enem reproduzir, em novo estágio, a segregação escolar, em que alguns alunos (especialmente, os mais pobres e dependentes das escolas públicas) continuarão a ser sempre os mais prejudicados.
Principalmente, se o Enem passar a ser obrigatório, como quer o governo e servir como referencia única para acesso às universidades, no lugar do vestibular.
Num Brasil com esta imensa má distribuição de renda, incorporado no DNA de nossa elite, temos que exigir mudanças que beneficiem a todos. Para avançar de maneira uniforme e gerar oportunidades educacionais que sejam iguais para todos. Portanto, ainda não dá para comemorar, com a euforia oficial, os recentes resultados do Enem.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Mais renda para as mães, esposas, trabalhadoras

Pesquisa encomendada pelo jornal “O Globo” mostra um salto na renda das mulheres de 30,8% entre 2006 e 2011. A renda feminina subiu de R$ 519,3 bilhões, em 2006, para R$ 679,5 bilhões, em 2011. No mesmo período os homens que já tinham uma renda acumulada de R$ 868,3 bilhões foram para R$ 1 trilhão, com uma variação de 22,7%.
Mas no que se define agora como nova classe média, ou seja, a Classe C, a massa de renda delas avançou 48,6% em cinco anos, para R$ 333,3 bilhões; enquanto a deles subiu 38,3%, para R$ 508,8 bilhões.
E basta estarmos atentos em nossas vilas e bairros que a gente percebe a nova força econômica das mulheres. Os salões de cabeleireiro estão sempre cheios, assim como as lojas que vendem cosméticos.
São bons sinais que se complementam com nossas esposas, mães e filhas tendo mais acesso à Educação e com uma participação social muito mais expressiva. E que comprovam, também, o acerto das políticas públicas adotadas desde o início do governo Lula que transfere renda priorizando quem tinha muito pouco.
O importante de se transferir renda para as mães, esposas e trabalhadoras é que o dinheiro é investido, preferencialmente, na família. No estímulo aos filhos e filhas, na melhoria da casa e da alimentação. Porque a mulher cuida mesmo. E tende a não embarcar, facilmente, no consumo.
Mas, o mais importante desta nova etapa, é o ganho de renda tanto para a mulher quanto para os homens, com uma variação maior para as famílias trabalhadoras que se situam na Classe C.
É hora de fazer as contas, de planejar os gastos e, principalmente, de se manter atento para não sofrermos recuo nestes ganhos de renda. Porque, não devemos nos iludir, todo avanço a favor da família trabalhadora preocupa alguns setores da nossa elite que, infelizmente, não percebem as vantagens de se distribuir renda de maneira persistente e para todos os setores sociais e econômicos, com atenção especial aos excluídos.
Pois na medida em que o cidadão se transforma em consumidor melhor fica a situação do nosso mercado interno e melhora não apenas para as famílias da base da pirâmide, mas para o conjunto da nossa economia. Beneficiando, também, os empresários e seus empreendimentos.
É uma conta fácil de fazer. Mas o difícil é ensinar para alguns setores da nossa elite a largar o osso da concentração de renda. Mas com participação social vamos, aos poucos, confirmando o novo estágio de renda que conquistamos no Brasil.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Para entender as entrelinhas

Apesar das facilidades de acesso que a tecnologia da internet gera para todos nós, através do acesso a sites, blogs e jornais on-line, a comunicação de massa, que pretende atingir grandes agrupamentos humanos é algo extremamente caro.
Seja o jornalismo noticioso em papel, na televisão ou no rádio. As equipes e a infra-estrutura operacional são coisa de gente muito grande, pois o noticiário final alavanca grandes interesses econômicos, influencia os destinos da Nação, derruba ministros e, até mesmo influencia na definição do futuro de nossa economia.
Por isso, cada vez mais os trabalhadores e os cidadãos brasileiros, nós mesmos, os carregadores de piano da nossa economia, que não temos acesso aos editores de jornais e nos programas de rádio ou de tv somos apenas os figurantes nos palcos, temos que ficar cada vez mais espertos e entender as entrelinhas do noticiário.
Por exemplo, na grande maioria dos nossos órgãos de divulgação a economia brasileira vai de mal a pior. Tanto o governo Lula quanto o de sua sucessora, Dilma Rousseff estariam, nas análises que acompanhamos, prejudicando o Brasil.
Mas basta dar uma olhadinha de leve na imprensa estrangeira e vamos descobrir vários elogios ao ex-presidente Lula e a Dilma Rousseff. Cada vez mais o Brasil é o país para onde se convergem os grandes investimentos mundiais. Seja pelo nosso mercado interno, pelo etanol, pelo Pré-Sal.
E nós, a peãozada, sabemos que o País está indo bem. Já nos acostumamos a sentir o gostinho de mais grana no bolso, resultado de políticas públicas que conseguem, pela primeira vez em 500 anos, distribuir um pouquinho melhor a nossa renda. Com a valorização do salario mínimo, que no ano que vem chega a R$ 616,00 e superará, fácil fácil, os US$ 385.
Outra entrelinha que merece nossa atenção foi a recente decisão do Comitê de Política Econômica do Banco Central, o Copom, em reduzir a taxa de juros brasileira de 12,5% par 12%.
Os banqueiros e financeiras que especulavam com juros mais altos ainda, espernearam a doidado. Não o fizeram, contudo, através de matéria paga nos meios de comunicação, se identificando. Não, nada disso. Como de hábito estimularam seus porta-vozes a dar declarações bombásticas contra a decisão do Banco Central. Tentam se passar por “opinião pública” e vendem seu peixe.
E nós, a peãozada, o cidadão que trabalha e vota, que cuida da própria vidinha com enormes dificuldades, sabemos que baixar juros foi uma decisão de independência e de coragem do Banco Central.
A continha de chegar é fácil de fazer. Com juros mais baixos, quem está acostumado a especular vai ter que investir na produção. Que gera mais empregos, mais riquezas, mais transferência de renda através dos salários.
A consequência é mais dinheiro circulando no nosso mercado interno e o Brasil ficará mais preparado para enfrentar a crise mundial, que volta a ter uma recaída brava.
Por isso, ao ler os jornais, ouvir programas de rádio ou assistir o noticiário na TV fique atendo às entrelinhas. Avalie a quem interessa as críticas. E apesar de respeitar as opiniões que nos são repassadas, aproveite para formar você mesmo a sua própria opinião.
Pois no final do mês, é sua decisão que vai determinar como suas contas continuarão a ser pagas.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Reformas em casa e na cidade

A rotina doméstica é cheia de reparos. Uma torneira que pinga, desperdiçando água requer nossa atenção imediata. Uma telha ou um vazamento na laje também. Um interruptor que parou de acender, uma lâmpada queimada, o forno do fogão que não esquenta mais ou o guarda-roupa todo bambo, precisando urgentemente ser ajustado ou trocado.
Ou seja, em casa as tarefas nos são impostas pelos defeitos que a gente identifica e corremos para corrigir por conta própria ou buscando ajuda de quem sabe.
Mas basta atravessar a porta de casa a caminho do posto de saúde que parece que nossa capacidade de reparar os erros do mundo se evapora. Chegamos no posto de saúde meio ressabiados. A gente sabe da fama que o lugar não funciona direito, sempre falta médico ou medicamento, de acordo com o que ouvimos dos nossos vizinhos.
Mas hoje, com esta gripe brava consumindo nossas energias, precisamos apenas de uma atenção rápida do médico, uma receita e quem sabe, se essa febre insistir, um atestado para mostrar na empresa e provar que não estamos bem mesmo.
Chegamos ao posto e a fila é imensa. E logo descobrimos que não tem médico nem remédio. Ou esperamos aparecer algum profissional ou desistimos e vamos trabalhar. Mas o corpo quer repouso.
O que fazer?
Nestas horas a gente se esquece completamente que o bom funcionamento do posto de saúde depende do nosso empenho. É hora, mesmo doente, de pegar o nome do responsável técnico pelo posto. E tentar descobrir se é ou não um apadrinhado político.
Mesmo exaustos pela gripe, vamos voltar para casa ligar para a empresa e explicar a situação para nossa chefia. E, na sequência, vamos descansar um pouco e depois fazer uma série de telefonemas.
Vamos ligar para os vereadores da situação e da oposição e relatar o que passamos. Vamos mandar uma cartinha de umas dez linhas para o prefeito. Vamos escrever, também, um e-mail para o jornal da cidade ou do bairro relatando que o posto precisa de atenção da municipalidade, com urgência.
Aí, alguém te diz que não adianta nada tentar consertar a cidade. Adianta sim. É através destes gestos e atitudes que a gente melhora nossa cidade. Evitando ser chato mas deixando claro que vamos agir sempre quando encontrarmos uma torneira pingando ou um posto de saúde fora dos eixos.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Dilma, como Lula, aposta no mercado interno para barrar crise financeira

O governo da presidente Dilma Rousseff ampliou o leque de medidas para proteger nossa economia de eventuais consequências da crise financeira internacional que ressurge com um vigor com os problemas econômicos não solucionados e crescentes que afetam Estados Unidos e Europa.
Segundo noticiou a Folha, na semana passada, “para evitar efeitos da crise, bancos públicos terão subsídios da União para aumentar os financiamentos de baixa renda e o Tesouro Nacional dará dinheiro às instituições para baixar juros de empréstimos dos atuais 60% para 8% ao ano.”
O objetivo é se antecipar à queda no crescimento econômico nos próximos anos. E para fazer frente aos efeitos da crise o governo já incluiu no Orçamento uma linha de crédito de R$ 850 milhões para subsidiar crédito para a baixa renda até 2013.
Os bancos do Brasil (BB), da Amazônia (Basa), do Nordeste (BNB) e a Caixa Econômica Federal terão metas para concessão dos financiamentos, de até R$ 15 mil..
Até dezembro, eles terão que liberar R$ 654 milhões nessa linha, alcançar R$ 1,73 bilhão no ano que vem e R$ 2,99 bilhões, em 2013.
O foco são trabalhadores formais e informais e micro empreendedores que faturam até R$ 120 mil ao ano.
Nesta semana, o governo adotou medidas radicais para aumentar sua reserva de caixa, que os economistas chamam de superávit primário, para reduzir a necessidade de financiamento da dívida pública brasileira, com captação de dinheiro a juros estrondosos e teremos, pela primeira vez, a possibilidade de reduzir os juros, mesmo que gradativamente. O que sinalizará para a retomada dos investimentos produtivos, com reflexos positivos nas campanhas salariais que já se iniciaram.
Com a iniciativa, o governo mobilizará o setor privado para a retomada dos investimentos, com transferência de renda via salários e o consequente reaquecimento da nossa economia. Tudo isso, ajudará a criar uma barreira à atual crise financeira mundial.
Por todas estas medidas é que a presidente Dilma foi considerada pela revista “Forbes” como a terceira mulher mais poderosa do mundo. A primeira colocada é Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha e Hilary Clinton, secretária de Estado americana.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

A epidemia da indiferença

Tem se tornado lugar comum no noticiário a ação de um bando de meninas pobres, que invadem lojas, furtam bijuterias, batons e cosméticos e saem em correria pelas calçadas de bairros de classe média de São Paulo.
A polícia é acionada e leva as meninas para a delegacia. As mães são convocadas. Chegam os canais de televisão. E o circo está montado. Ali, diante das câmeras se estabelecem as motivações que teriam levado as meninas ao crime. E suas mães, devidamente expostas, são julgadas e condenadas sumariamente como responsáveis pela ação das filhas.
Fim do noticiário e todos, aparentemente, satisfeitos por terem visto as meninas serem apreendidas e condenado suas mães, apresentadas como irresponsáveis, voltam as atenções para o próximo capítulo da novela. E a vida continua. Até, claro, que outro incidente venha a acontecer.
Porque as meninas são vítimas e não criminosas. São crianças abandonadas, filhas de mães que foram social e economicamente deixadas à própria sorte. E por mais cinismo que o noticiário sensacionalista tente nos induzir, lá no fundo de nossas almas cidadãs a gente sabe que tem alguma responsabilidade neste abandono sistemático e continuado dessas crianças.
Somos, no mínimo cúmplices, por contribuir com nosso aplauso silencioso com a epidemia de indiferença social que compromete os destinos de nossos meninos e meninas. Mesmo que concluamos que não temos nada a ver com essa situação, pois os meninos e meninas mostrados na televisão não são nossos filhos ou sobrinhos.
Se somos tão indiferentes com a sorte de crianças e suas mães pobres e abandonadas, o que dizer dos problemas que afetam os moradores de cortiço, o martírio dos sem teto que moram nas ruas, faça frio ou faça sol?
Ainda bem que a cura para a indiferença social está em nós mesmos. De tanto contarem com nossa cumplicidade na condenação das mães e suas filhas abandonadas, de tanto terem a certeza que apoiamos o abandono que o Estado condena seus jovens infratores, vamos, acredito, acordar para a realidade e ver que a epidemia da indiferença é um mal social a ser evitado.
Precisamos acordar para a solidariedade cidadã. E antes de nos deliciarmos com o espetáculo macabro de mães e filhas pobres e abandonadas sendo expostas ao escárnio público, vamos exigir dos prefeitos e vereadores de nossas cidades uma atitude a favor dos cidadãos que tiveram a infelicidade de perder tudo: emprego, renda, casas e dignidade.
Quem sabe chegará um dia em que nós, cidadãos e trabalhadores, não aceitaremos mais ser cúmplices dos macabros espetáculos de tevê. Vamos nos vacinar contra a epidemia da indiferença e exigir que os agentes do Estado sejam mais atuantes. Pois, afinal, é para isso que recolhemos nossos impostos e os escolhemos para nos representar.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

As batalhas de todos os dias

Nesta semana o noticiário traz a perseguição, que se espera ser final, ao ditador Kadafi que está no poder há 42 anos e nos lembra, também, os 10 anos do ataque terrorista ao World Trade Center, em Nova Iorque.
Se a gente buscar nas demais páginas de jornais ou ficar mais atendo aos noticiários poderia fazer uma lista de conflitos mundiais que não caberiam aqui neste espaço.
Aparentemente, não temos nada a ver com as guerras dos outros. Afinal, nem sequer estamos em guerra. Aqui não é nem Síria, também, em conflito. Nem Somália, que sofre uma fome devastadora, resultante de uma guerra civil insana.
Será verdade?
Todos os dias pelo menos 140 brasileiros morrem esmagados pelas ferragens de um veículo. Temos um dos trânsitos mais mortais do mundo. Perdemos 50 mil cidadãos brasileiros por ano. Muitos deles nossos parentes, amigos, vizinhos.
Aqui, ainda morrem 20 crianças por mil nascidas vivas, uma taxa bem inferior às 120 crianças mortas por mil nascidas vivas em 1970, mas ainda uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do mundo.
Em Belém, no Pará, uma mulher, grávida, de 27 anos perdeu os filhos gêmeos depois que dois hospitais disseram não ter vagas para atendê-la durante o trabalho de parto.
Ou seja, estamos sim, em guerra aqui neste nosso país tropical abençoado por Deus.
A responsabilidade por estas batalhas cotidianas, que nos ceifam vidas e pedaços do nosso futuro não podemos atribuir a ditadores. Já mandamos os militares de volta para o quartel desde 1985. Não, a culpa não é dos militares desta vez.
Mas que existem muitos homens e mulheres nas funções públicas agindo de maneira assustadoramente irresponsável, ah!, isso tem.
Porque todos percebem que algo tem que ser feito para melhorar a educação do trânsito para reduzir a carnificina assassina e gera um prejuízo de R$ 5,3 bilhões por ano, apenas com os acidentes que ocorrem nas áreas urbanas do País, segundo levantamento do Ipea. A entidade calculou, ainda, que cada acidente de trânsito sem vítimas gera um customédio de R$3.262, um acidente com ferido apresenta um custo médio de R$17.460 e um acidente com morte, R$144.143.
Um custo que incide, em grande parte, nas contas do Sistema Único de Saúde (SUS), e no desamparo com que as vítimas deixam seus familiares.
Estamos, portanto, também em guerra permanente.
Mas quando nossos dirigentes, eleitos democraticamente, respeitarem nossa vontade de viver, com certeza vão enfrentar essa guerra do trânsito com eficiência. E vão se sensibilizar e acelerar o combate à miséria, como é promessa da presidente Dilma, e investir com seriedade nos hospitais para não deixar mães perderem seus filhos sem terem, sequer, a oportunidade de um parto.
Cicero Firmino, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Mínimo goleia cesta básica; agora é hora de ampliar o placar também nos valores dos nossos salários

Reportagem do Diário do Grande ABC registrou que “Há dez anos, o morador da região que recebia apenas um salário-mínimo sequer conseguia comprar os produtos da cesta básica regional, composta por 34 itens. Na época, o piso nacional somava R$ 151, e comprar os produtos de primeira necessidade, portanto, era um grande sacrifício, já que era necessário despender R$ 152,34”.
Passados dez anos, sendo que oito anos do governo do presidente Lula, o salario mínimo deu uma goleada na cesta básica.
Agora, registra o mesmo DGABC, o consumidor de baixa renda pode mais, com os R$ 545 mensais que ganha: além de comprar a cesta nas sete cidades, orçada na última quinta-feira em R$ 363,31 em média, ainda sobram R$ 181,69 no bolso do consumidor.
Nossa categoria acompanha de perto a evolução do salário mínimo mas a gente quer mais, muito mais. Principalmente para os salários e pisos salariais de nossa base em Santo André e Mauá. Queremos também aumento real em nossos salários, que se somarão à Participação nos Lucros e Resultados.
O dinheiro que chega em nossos bolsos, através dos nossos salários, é que permite ampliar a distribuição de renda no Brasil. E como a gente gasta todo o salário do mês em consumo, tivemos participação importantíssima para estancar a sangria desatada da grande crise financeira mundial, que se abateu sobre o mundo inteiro e no Brasil em 2008.
Agora, outra crise mundial preocupa todo mundo. E tem servido, mais uma vez, para as manipulações patronais. Muitos patrões e empresários jogam contra o patrimônio nacional e querem embolsar lucros e deixar que o resto da sociedade e os governos se virem com a crise.
Nós, metalúrgicos, sabemos que a mobilização e muita troca de ideias, dentro e fora da fábrica e do sindicato ajuda a mudar o jogo. Por isso, vamos nos mobilizar para negociar salários decentes, com reajustes reais, na campanha salarial que está em progresso.
Vamos dar uma goleada na concentração de renda no Brasil. Vamos, todos juntos, reforçar com nossos salários o mercado interno do Grande ABC e do Brasil.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

Agir sob pressão

Estamos a um ano e um mês das próximas eleições municipais. Daqui a pouco começaremos a ouvir as promessas de campanha no lugar de ações e atitudes concretas a favor de nossas cidades, bairros, ruas e vilas. Apesar de a gente saber que quase tudo falta ser feito.
As ruas serão deixadas para serem maquiadas na reta final. As escolas vão levar uma demão de tinta. Os professores e seus pais vão receber promessas de melhorias pra o próximo ano, entenda-se, para o próximo mandato.
É essa, infelizmente, a maneira com que nosso sistema eleitoral e democrático funciona. Os nossos mandatários sabem o que precisa ser feito, mas preferem as obras faraônicas do que o investimento permanente na qualidade das nossas escolas, hospitais e da segurança pública.
É uma situação que se repete em todas as cidades. E não é um problema restrito aqui ao Grande ABC. Acontece no Brasil todo. Nos falta, infelizmente, as administrações públicas pró-ativas. Que atuem a favor do bem-estar do cidadão. Que invistam na qualidade de vida atual e futura dos nossos jovens.
Falta, acreditamos, lideranças políticas que assumam suas responsabilidades cívicas como uma obrigação. Sem ser preciso serem pressionados pela opinião pública, sem deixarem para maquiar as administrações apenas nas proximidades das eleições, pois desta maneira é uma manipulação que não nos engana mais.
O que os atuais gestores municipais estão nos dizendo com esse corpo mole permanente, nos três anos que se seguem às eleições, e deixar para agir só na reta final é que nós, como cidadãos, também somos uns molengas e não cobramos nossos direitos.
Ninguém consegue imaginar um time de futebol deixando para investir no campeonato apenas nas finais. Nenhum pai e mãe quer que o filho estude e aprenda apenas no último ano escolar. Ninguém quer ter acesso à Justiça depois que passar dois ou três anos na cadeia.
Mas deixamos a situação correr bamba para os prefeitos e vereadores de nossas cidades. Os colocamos para administrar a cidade e depois damos carta branca. Não participamos das reuniões nas Câmaras Municipais. Acreditamos em tudo que eles nos falam. E fingimos que exercitamos a democracia, enquanto eles fingem que administram nossas cidades.
Está na hora de a gente acordar. E ficar acordado todos os dias. Acompanhar de perto o que esse pessoal faz em nosso nome. E reclamar de tudo. Do buraco nas nossas ruas, da falta de iluminação, da insegurança, do médico que não aparece e do remédio que falta.
Vamos fazer a nossa parte pela administração das nossas cidades. Porque esse pessoal que hoje ocupa os cargos administrativos só age sob pressão.
Cicero Firmino. Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá

O nosso lado da crise

Foi publicado no site da BBC Brasil a seguinte notícia: “As dez maiores empresas gestoras de investimento do mundo administravam, ao final do ano passado, um total de US$ 17,4 trilhões, montante 20% superior ao PIB dos Estados Unidos, maior economia do mundo, e equivalente a 8,3 vezes o PIB brasileiro”.
E é esse mesmo pessoal, os donos do mundo, que desde 2008 se envolvem numa crise continuada. O que este pessoal não conhece, ainda, é a famosa Lei de Garrincha.
Como a maioria dos boleiros sabe, na Copa de 1958, véspera do jogo contra a Rússia, então URSS, a preocupação era Tsarev, temível lateral incumbido de uma missão impossível, segurar Garrincha.
O técnico Feola se esmerava junto ao nosso craque: “quando o Tsarev vier em disparada, passe a bola. Quando o outro beque vier pela direita, drible pela esquerda...”. Na sua simplicidade, Mané Garrincha lança a pergunta demolidora:
– “O senhor já combinou tudo isso com os russos?” Daí surgiu a famosa Lei de Garrincha.
Enquanto a crise financeira não existia, os grandes especuladores mundiais podiam se dar ao luxo de deitar e rolar, mandar e desmandar em governos, especular com commodities e com moedas e transferir uma dinheirama para suas contas numeradas. Eram os Senhores do Universo
Mas chegou a crise. E o jogo agora tem que ser jogado levando em consideração os Estados democráticos, seus cidadãos e a opinião pública.
É hora, portanto, de os especuladores aprenderem a Lei de Garrincha e combinar com os russos, ou seja, nós trabalhadores e cidadãos dos países emergentes como o Brasil.
Porque se não combinarem com os geradores de riqueza, toda a moeda eletrônica deste pessoal corre o risco de virar pó. Pois, só se acumulam riquezas se alguém as criar. É o que, nós trabalhadores, fazemos todos os dias nas fábricas, nos campos, nos escritórios e lojas.
E se não combinarem com a gente, os especuladores vão viver de vazio, como se jogassem bola num campo sem torcida e sem adversário. Por isso, está mais do que na hora de a gente fazer valer o nosso lado da crise. E exigir um Estado mais consciente e menos subserviente aos especuladores.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá